O trabalho é norteado por uma delicada releitura, uma interpretação “autoral” de 18 canções do repertório do Cantor das Multidões.
A produção musical é assinada por Cezinha Oliveira que inseriu elementos clássicos na obra como piano, baixo acústico, acordeon, trombone e violão de sete cordas, dando requinte às sonoridades sem cair no mero saudosismo.
Abre a Janela Zé Guilherme Canta Orlando Silva é um trabalho contemporâneo que harmoniza interpretação, arranjos e composições; e mostra que a chamada “música antiga” do Brasil pode se manter clássica na origem, popular na apresentação e sofisticada na concepção. Zé Guilherme é cantor nascido em Juazeiro do Norte (CE), radicado em São Paulo.
Leia ou Baixe o release e o encarte do cdO rico repertório interpretado e legado pelo cantor Orlando Silva é incomparável em matéria de beleza musical e poética na Música Popular Brasileira. São composições que, em sua maioria, transformaram-se em clássicos da MPB e que foram regravadas por numerosos cantores, assinadas pelos nossos maiores compositores, como Noel Rosa, Ary Barroso, Wilson Batista, Pixinguinha, Cândido das Neves, Pedro Caetano, Lamartine Babo, Haroldo Lobo, Nássara; ou que ele também gravou, da autoria de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, entre os autores mais modernos.
O cantor Zé Guilherme, ardoroso admirador de Orlando, desde menino, aproveita o centenário do lendário artista carioca para prestar-lhe preciosa homenagem, regravando, com novos arranjos, quase duas dezenas desse incomparável repertório, em que não há destaque, pois todas as canções por ele selecionadas são igualmente belas.
Começa com “Alegria”, de Assis Valente e Durval Maia, praticamente do início da carreira de Orlando Silva, e prossegue com “Abre a Janela”, de Arlindo Marques Jr., e Roberto Roberti, primeiro sucesso carnavalesco do "Cantor das Multidões", um samba boêmio irretocável para o carnaval de 1938.
O repertório selecionado por Zé Guilherme fala por ele mesmo e se impõe como um prazer permanente para quem se der ao luxo de escutá-lo. Na condição de permanente admirador de Orlando e de sua gloriosa obra artística, parabenizo o cantor pela brilhante iniciativa, dando fé também pelo seu esmerado talento
Abrir a janela e debruçar-me para apreciar o legado do “cantor das multidões”, Orlando Silva, é um anseio que cultivo há mais de dez anos e que agora me sinto com coragem de levar adiante, assumindo humildemente a tarefa de resgatar e reler a obra daquele que foi, desde minha tenra infância, a inspiração e o combustível que acendeu a chama do desejo de ser cantor.
Nasci no sul do Ceará, em uma família humilde, sem nenhuma tradição de membros envolvidos profissionalmente com a música, porém profundamente musical na medida em que a principal diversão sempre foi ouvir os programas de rádio por meio de um aparelho SEMP “capelinha”, estrategicamente instalado em um suporte fixo à parede da sala de jantar. Dalva de Oliveira e Orlando Silva eram os prediletos de minha mãe, enquanto Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro eram os preferidos do meu pai.
Por ali também se ouvia Ângela Maria, Cauby Peixoto, Chico Alves, Isaurinha Garcia, Elizete Cardoso, entre tantos outros, num desfile de astros e estrelas da maior importância no cenário musical brasileiro, que o meu ouvido de criança atentamente absorvia embevecido e encantado.
À noitinha nos sentávamos à calçada, sob o olhar vigilante dos adultos, para ouvir às novidades vindas da difusora local pelo sistema de autofalantes espalhados pelos postes da cidade. As notícias entremeadas de peças musicais nos entretinham até a hora de nos recolhermos
Muito tímido, reservado, comportado e franzino eu me esquivava das brincadeiras de rua com a garotada e permanecia ao lado dos adultos viajando nas ondas sonoras da difusora, aguardando ansiosamente o momento de ouvir aquela voz majestosa, brejeira e encantadora daquele a quem diziam ser o maior cantor, o maior intérprete e a maior voz masculina do Brasil, Orlando Silva. Jamais tive a oportunidade de vê-lo e ouvi-lo ao vivo.
O encantamento e a admiração que surgiram naquela época, alicerçados na obra de Orlando Silva, tornaram-me definitivamente amante, consumidor e apreciador visceral da música brasileira. Os anos de infância se foram, vieram a juventude e a vida adulta e com elas o início do exercício de cantar na noite, a profissionalização como cantor com a decorrente gravação de dois CDs. Permaneceu, no entanto a paixão de infância e o desejo de reverenciar aquele a quem orgulhosamente tomo a liberdade de dizer que é a minha maior influência musical e artística.
E é com este espírito que agora ponho em prática a minha reverência ao ídolo, a quem desejo homenagear não apenas como artista, mas como a figura singular que todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo mencionam. Desejo acima de tudo com este resgate e releitura, aproximar aqueles que muito pouco ou quase nada conhecem de sua obra e reforçar a lembrança dos que tão bem o conhecem.
Abrir a janela, apreciar a paisagem, o desenho e o colorido de sua obra, trazer à tona a lembrança da voz sedutora, brejeira, impecável, tecnicamente perfeita, potente, encantadora, entre tantos adjetivos que poderiam ser utilizados, mas que não definem integralmente a voz que arrebatava multidões.
Orlando Silva com seu canto exaltou e consolou a bela “Jardineira”, confidenciou seus ais ao “Malmequer”, acreditou no amor jurado “Aos Pés da Cruz”, desvelou a fragilidade do “Boêmio”. Cheio de “Lero-lero” procurou o amor, cantou a “Alegria” das batucadas, revisitou a “História Antiga” do triângulo amoroso pierrot/colombina/arlequim, acariciou o Rio de Janeiro comparando-a a uma “Cidade Brinquedo”, encantou-se com a “Dama do Cabaré”, confessou ao mundo que “O Homem Sem Mulher não Vale Nada” e à amada que “Meu Consolo É Você”. Não teve reservas em admitir “A Primeira Vez” que o amor lhe apareceu e quando “Pela Primeira Vez” se apaixonou e até mesmo o “Preconceito” que permeia o amor entre classes sociais distintas.
Tendo em conta as dificuldades de acesso a todo o acervo de gravações do cantor o repertório a ser abordado contempla o período 1935 a 1942 considerado por biógrafos do autor seu período de apogeu e elenca alguns dos seus grandes sucessos bem como canções de grande importância na sua obra, porém menos conhecidas do público.
É este o Orlando Silva – que, se vivo fosse, completaria 100 anos de nascimento, em 2015 – para o qual abro a janela do meu coração, para com respeito e reverência apossar-me dos seus grandes sucessos e reapresentá-los ao público.
Jonas Vieira fala sobre a importância de Orlando Silva
Abre a Janela | Cezinha Oliveira Fala Sobre Os Arranjos
Abre a Janela Zé Guilherme Canta Orlando Silva | EPK
Teaser Abre a Janela
Múscia: Alegria (Assis Valente / Durval Maia)
Múscia: Preconceito (Wilson Batista/Marino Pinto)